23 de dez. de 2009
Antes de mais nada,
durante essa semana algumas coisas digamos, tensas, aconteceram. Faz tempo que não escrevo e essa semana eu tive a oportunidade de juntar uma coleção de argumentos pra escrever algo novo.
Assim, preenchi com muito café e um pouco de leite uma xícara grande do High School Musical e resolvi meter a mão em algumas teclas.
A vida é um jogo de Poker.
"Lá estava eu. Era um dos heads up* mais importantes da minha vida. Eu com um stack* bem pequeno e ela com o resto das fichas - que não eram poucas -, só esperando eu colocar todas as fichas na mesa. Já era hora, era minha hora, eu tinha o jogo na mão. Tinha AK suited, tinha que chamar all-in pré-flop, era o risco certo a correr. Não dava pra esperar, ficar pagando big blind esperando um bom par.
Feito! All-in!
no primeiro momento, ela fugiu.
Próxima mão, eu paguei big blind, ela voltou raise e eu chamei all-in de novo.
Dessa vez eu não tinha uma boa mão e o resultado já era esperado.
Terminei o jogo com a mente limpa, terminei tranquilo. Nem sempre se leva uma boa mão de poker".
Quantas vezes na vida não nos deparamos com uma disputa deste tipo? O tudo ou nada?
Eu diria que quase sempre. Quase sempre mesmo.
Algumas vezes temos algo tão certo, mas tão certo, que não conseguimos analisar opções, não calculamos probabilidades e simplesmente colocamos nossas fichas na mesa.
Diferente do jogo de poker, onde se pode analisar o jogo, calcular probabilidades e poder fugir sempre que necessário, o jogo da vida não nos dá tantas possibilidades.
Algumas vezes somos impostos a jogadas as quais não há check* ou fold*. O que existe é o call*, nada além do call. Ou seja, a única opção, é pagar algo que nem sabemos se é o certo a se fazer. Mas pagamos.
Outras vezes, não há outra opção a não ser a de chamar um raise* em cima de uma aposta. As vezes temos tanta certeza de que o que está na mesa é nosso, que aumentamos ainda mais a aposta. Ganância, ambição, certeza? Quem sabe, cada caso, um caso. Cada escolha, uma renúncia.
Tais situações fazem parte do cotidiano.
Conheci um rapaz que conheceu uma garota.
Ele não analisou seu jogo. Pagou a aposta.
Esperou o turn. Assim que bateu, ele ficou feliz. Continuou pagando mãos cegas, apostando num jogo ainda indefinido, na esperança de uma quinta carta boa virar na mesa.
Enquanto isso, enrolou, tentou blefar, jogou seu jogo incerto.
Assim que a quinta carta virou, ele não pensou duas vezes.
- 'All-in'.
Mas ele não teve boa sorte com a última carta a ser virada na mesa. Perdeu o jogo, perdeu dinheiro, perdeu a fé e a esperança também.
Também conheço pessoas que perderam o jogo numa aposta de emprego, numa aposta do colégio e até mesmo em apostas fúteis - amigos virando doses de destilados em mesa de bar-.
A vida se aproveita da gente, aproveita que é um jogo viciante de se jogar e nos prega peças, nos faz acreditar que temos um jogo ganho e quase sempre nos enganamos.
E como consequencia perdemos o jogo.
Esse eterno jogo de poker, não é sempre um jogo de perdas.
Na maior parte do tempo, o que temos são testes.
Será que dá pra apostar naquela amizade? Naquela oferta de emprego, naquele namoro, naquele time da final do mundial interclubes, naquele lutador de artes marciais ou naquele par de damas no final de um main event?
O que vale é o aprendizado.
Já perdi com pares e pares de damas. Já perdi com pares e pares de Valetes.
Mas já ganhei com cartas improváveis e acabei me dando bem.
É tudo uma questão de escolha e muitas vezes de sorte.
Apesar de tudo isso, a vida é um jogo bom de se jogar pois é um jogo real. Cada jogada, cada carta, cada aposta, reflete em algo decisivo sobre nosso futuro.
Sim, a vida é um jogo bom de se jogar.
E sempre que eu perder todas as minhas fichas, eu peço rebuy*, pois eu não abandono o jogo, nunca.
"Mesmo perdendo aquele heads up, eu sai sorridente. A vida irá me proporcionar outros mais, pois eu sou viciado em poker.
Se eu me arrependo de ter colocado todas as fichas na mesa em uma situação de risco? De maneira alguma! Nem sempre posso ser analítico, frio e calculista. Sou humano, feito de carne, osso, pensamentos e cheio de vontade de jogar de novo. Esse jogo não acaba, ele sempre recomeça".
*check - checar, pedir pra continuar o jogo sem necessidade de apostar.
*call - pagar uma aposta.
*raise - aumentar o valor de uma aposta.
*all-in - colocar todas as fichas na mesa, aposta máxima.
*rebuy - comprar mais fichas durante o jogo.
*fold - fugir de uma aposta.
*heads up - normalmente a rodada final, um jogador contra outro.
*stack -suas fichas no jogo.